Tags não são a solução para tudo

Hoje à tarde escrevi um comentário em um blog de um cara que propunha a idéa de colocarmos “tags” em pessoas. Você tiraria uma foto de alguém, associaria algumas palavras-chaves à essa pessoa (as tags), e mandaria para um servidor central. Outras pessoas, quando tirassem uma foto de alguém, mandariam ela para o servidor, que analisaria o rosto, reconheceria a pessoa, e retornaria quais as palavras-associadas à ela.

Pra quê? Pra quando você conhecesse alguma pessoa nova, você soubesse o que outros acham dela. “legal” ou “engraçada”, por exemplo.

Argumentei no comentário que a idéia não funcionaria, por alguns motivos que não quero explicar agora. Mas me espantou algo mais profundo, a idéia de que “tags” e compartilhamento são a solução. Ou melhor ainda, que eles são o ingrediente principal dessa coisa que chamamos Uébi 2.0.

Olha cambada, não é. Não adianta ficar pensando em tags e como usá-las. Não adianta olhar pro del.icio.us e pensar: Uia! Eles dão certo. Eles usam tags. Logo, tags dão certo. E ficar viajando em tudo que seria legal colocar tags. Porquê não é bem assim. Essa parada funciona em algumas coisas. Com certeza várias delas ainda não foram inventadas. Com certeza vários fulanos virão com idéias que usam tags e vão ser animais.

Mas não me comece mal. Não pegue a implementação e vá andando da frente pra trás, ou seja, desconstruindo um conjunto e fazendo os elementos individuais quererem funcionar por eles próprios. Porquê não é assim que seu próximo site vai dar certo. A única coisa que você vai ter no final é um Frankenstein. O olho mais bonito do mundo, o nariz mais perfeito do mundo, a boca mais sensual. Não é porquê você acertou os ingredientes que a receita vai dar certa.

O que me lembra o livro da Dona Benta que eu comprei hoje para a minha mãe. Ela abriu, folheou, parou no Bolo Formigueiro e falou: Nossa! Essa receita é diferente da que eu faço.

Pois bem, só que tem um problema. O Bolo Formigueiro da minha mãe é maravilhoso. Simplesmente o melhor que tem (ok, empatado com o da sua mãe). Na verdade, eu não perguntei pra ela, mas deve ser um ou dois ingredientes diferentes, uma palavra ou linha no modo de preparo de novidade. Mas é isso que faz a diferença. Seja na receita da matriarca daqui ou da do Sítio do Pica-Pau Amarelo, o diabo está nos detalhes.

Então, tirem o açúcar da veia e parem de construir websites envolta de tags.


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Comments

One response to “Tags não são a solução para tudo”

  1. Leo Cabral Avatar

    Concordo com o seu ponto de vista. A organização via tags é uma forma de fragmentar ainda mais o “equívoco”. Acredito que uma organização a partir de temas ou tópicos é melhor do que adicionar dezenas de tags para um elemento e pulverizar ainda mais a abrangência da procura.

    Veja, por exemplo, ao digitar “DOM” no Google, aparecem tanto informações sobre “Document Object Model” quanto “Dom Casmurro”. Para refinar a busca basta acrescentar uma vírgula e o tema “Programação” ou “Literatura”, dependendo do caso. Entretanto não podemos esquecer que o ser humano está além de uma contextualização sistemática. Não falamos como máquinas; dessa forma até a pesquisa “DOM, programação” pode retornar a programação de eventos de um seminário sobre Dom Casmurro e/ou a obra de Machado de Assis. Isso porque a máquina leu algum ponto da forma como não deveria.

    O que isso significa? Significa que sempre que tentamos realizar essa intercessão entre linguagem humana e “de máquina” algo se perde na interpretação.

    Abraço cara. Muito bom o texto.

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